
A vida fez-me de facto escolher automaticamente caminhos que não foram os melhores. Os problemas de facto conseguem muitas vezes limitar as nossas escolhas, o nosso tempo, a nossa vontade. E quando acordamos para a realidade vemos algo que não se coaduna com os nossos parâmetros de vida e até de beleza. E é nessas alturas que devemos perceber aquilo que somos e se temos a suficiente auto-estima como para tomar a decisão com coragem de lutar por voltar a ser o que éramos. Pq a beleza está de facto naquilo que somos como pessoas. Na forma de viver. Na forma de sentir.
A nossa força de vontade consegue dar outra dimensão a qualquer problema. Acreditem.
Querer é poder.
Resulta curioso perceber como isto afecta a minha vida. Ao meu estado de espírito. Estar sozinha faz com que seja complicado desabafar uma serie de coisas que sinto. Pq tb fui aprendendo a superar essas questões sozinha. Que remédio. Aprendi a lidar com problemas extremos assim. E durante os últimos anos habituei-me a resolver tudo com a esta cabecita que Deus me deu.
Será que esqueci que desabafar é sinonimo de amizade? Que é sinónimo de partilhar problemas com quem de facto nos quer bem?
Acho que não. Partilho algumas coisas. Poucas. Devia de ser um pouco mais egoísta e deixar de pensar que já chegam os problemas que as pessoas que me rodeiam têm como para estar a levar com os meus. E devia ser assim pq qd percebo que alguém a quem considero amigo precisa de desabafar não me canso até sentir que ajudei de alguma forma. Respeitar e ajudar.
Não deixo de ter saudades de ter aquela pessoa. Aquele porto de abrigo. Aquela sensação de protecção face a todas estas situações normais com as que tenho de conviver diariamente.
Eu sei que tudo chega. Tudo encaixa. Mas as vezes a pressão da vida faz-nos lembrar que não estamos feitos para estar sozinhos. E isso que tenho as costas muito largas. If you know what I mean?
As vezes resulta-me complicado encaixar o que me vai na alma. É como um rastilho que ando sempre a controlar tentando que nunca chegue ao fim. Gerir o que anda a nossa volta de forma a encaixar naquilo que consideramos objectivo e correcto. Mas nem sempre é fácil.
E não é mesmo nada fácil. Somos pessoas e não máquinas. Porque pensamos, sentimos, amamos… Mas todos o fazemos a nossa maneira. De facto todos somos diferentes e a natureza humana implica que cada um de nós, encaixe nos seus princípios de vida tudo aquilo que absorvemos. A nossa educação, a nossa experiência, os nossos problemas. Temos de lidar com todas as coisas que condicionam o nosso percurso de vida. Algumas da nossa responsabilidade. Outras pq o destino se encarregou de nos colocar naquele trilho.
Felizmente nem sempre conseguimos ser racionais. E digo felizmente pq as emoções fazem parte da nossa vida e não há ninguém (pelo menos que eu conheça) que não se tenha deixado levar uma vez pelas emoções. E isso não tem nada de errado. Muitas vezes é a única forma de conseguir sarar as feridas que essas emoções nos deixam e libertar-nos um pouco do peso que ser racionais nos traz.
Há dias em que tudo é questionado. As vezes paramos e olhamos para a nossa vida e tentamos perceber se o que fazemos dela encaixa nos nossos parâmetros de felicidade ou se a nossa forma de estar e agir é de facto coerente com aquilo que são nossos princípios, pensamos… e as vezes desesperamos a procura de uma resposta. Mas lá no fundo a esperança de encaixar as nossas vidas naquele patamar de felicidade nunca morre. Alias é o que muitas das vezes nos dá a força para continuar a lutar por um lugar ao sol.
Hoje é um desses dias. Tenho algumas encruzilhadas nesta carola. Uma serie de sentimentos que me estão a custar gerir mas que devo aceitar e compreender. Porque não é altura de os aflorar. Porque o futuro a Deus pertence. E porque por primeira vez em muito tempo não tenho a mais mínima ideia de como agir.
Não tenho de ter resposta para tudo. Mas também não vale a pena desesperar. O destino certamente tem alguma na manga…
Aqui vos deixo um pequeno texto. Ajudou-me. Não resolve mas ajuda…
“Viver não dói. Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão porreira, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projecções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso clube perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade"


